Histologia do Tecido Conjuntivo Propriamente Dito
Os tecidos conjuntivos (conectivos) são um conjunto de tecidos derivados do mesorderma do embrião a partir de células mesenquimais indiferenciadas. São caracterizados pela presença de abundante matriz extracelular, composta por fibras, líquido intersticial e substância fundamental amorfa (uma mistura de diversas moléculas).
As principais células deste tecido são os fibroblastos, células com intensa atividade de síntese da matriz extracelular, com nucléolo evidente, Retículo Endoplasmático Rugoso (RER) e Complexo de Golgi (CG) bem desenvolvidos. À medida que estas células secretam a matriz, se tornam quiescentes, sendo chamadas de fibrócitos, com menor quantidade de RER e CG. Logo, fibroblastos e fibrócitos são o mesmo tipo celular, mas em momentos diferentes de vida.
Temos dois grandes grupos de tecidos conjuntivos:
- Tecido Conjuntivo Propriamente dito, que se subdivide em Tecido Conjuntivo Frouxo e Tecido Conjuntivo Denso (modelado e não-modelado).
- Tecidos Conjuntivos de propriedades especiais, onde incluímos os tecidos adiposos, cartilaginosos, ósseo e o sangue.
Tipos de Tecido Conjuntivo Propriamente Dito
1. Tecido Conjuntivo Frouxo
Este tecido é caracterizado por um relativo equilíbrio entre a quantidade de células e de fibras da matriz extracelular (consulte abaixo os tipos de fibras), ou seja, não há predominância de nenhum dos dois elementos teciduais. É extremamente vascularizado e encontra-se associado aos tecidos epiteliais. Lembre-se que os tecidos epiteliais são avasculares e recebem seus nutrientes a partir do tecido conjuntivo subjacente: o tecido conjuntivo frouxo.
Encontra-se na derme papilar (derme superficial - Figura 1), preenche espaços entre órgãos e envolve músculos e nervos.
Figura 1 - Derme da pele (Tricômio de Masson, 400x). Acima, o epitélio da pele (Ep.), que se ancora no tecido conjuntivo frouxo (TCF) subjacente. Notar inúmeros vasos sanguíneos e um equilíbrio entre o conteúdo celular (núcleos de fibrócitos em vermelho) e fibras de colágeno, evidenciadas em azul nesta preparação.
(Lâmina gentilmente cedida por MSc. Silvania Tavares Paz, Depto. de Patologia - UFPE).
2. Tecido Conjuntivo Denso
Nesta modalidade de tecido conjuntivo, há um nítido predomínio de fibras da matriz extracelular em relação à quantidade de células (fibroblastos), daí o nome "denso". Dois subtipos:
- Tecido Conjuntivo Denso não-modelado (Figura 2): encontrado nas cápsulas de órgãos e derme profunda da pele (derme reticular). As fibras de colágeno são secretadas em várias direções, sem haver uma única orientação espacial. Este tecido possui grande força tênsil.
Figura 2 - Tecido Conjuntivo Denso não-modelado da derme profunda da pele. Note a predominância de fibras de colágeno tipo I, coradas em azul, dispostas em várias direções. Tricômio de Masson, 400x. (Lâmina gentilmente cedida por MSc. Silvania Tavares Paz, Depto. de Patologia - UFPE).
- Tecido Conjuntivo Denso Modelado (Figura 3): Encontrado exclusivamente nos tendões, estruturas conjuntivas que conectam os músculos esqueléticos aos ossos. As fibras de colágeno são secretadas pelos fibroblastos em uma única direção, em resposta às forças de tração a que o tecido é exposto.
Figura 3 - Tendão (HE, 400x). Note que as fibras de colágeno tipo I (rósea) estão dispostas em uma única direção. Em cor mais escura (róxeo), os núcleos dos fibroblastos, corados pela hematoxilina.
3. Tecido Conjuntivo Mucoso
É uma modalidade de tecido conjuntivo frouxo, rico em um glicosaminoglicano, o ácido hialurônico, que atrai bastante água para o tecido, dando uma consistência gelatinosa. As fibras de colágeno estão dispostas de forma frouxa entre os fibroblastos. Este tipo de tecido conjuntivo é encontrado apenas na polpa jovem dos dentes e no cordão umbilical, no qual é referido como geleia de Wharton (Figura 4).
Figura 4 - Lâmina de cordão umbilical. Fibroblastos dispersos em uma matriz hialina, rica em ácido hialurônico. As fibras de colágeno tipo I ficam coradas em róseo (eosina) nesta prepração. H.E., 400x.(Lâmina gentilmente cedida por MSc. Silvania Tavares Paz, Depto. de Patologia - UFPE).
Fibras do Tecido Conjuntivo
Como vimos anteriormente, os tecidos conjuntivos são caracterizados pela abundância de matriz extracelular (MEC). A MEC do tecido conjuntivo é composta por líquido intersticial, onde estão diluídas inúmeras moléculas (glicosaminoglicanos, proteoglicanos, glicoproteínas multiadesivas, íons diversos) e por fibras. As fibras são de dois sistemas: colágeno e elástico.
1. Sistema colágeno
As fibras colágenas são constituídas por colágeno, uma família de proteínas que representa a molécula mais abundante no reino animal. Há mais de 20 subtipos de colágeno descritos.
As fibras de colágeno tipo I (Figuras 2, 3 e 4) são as mais abundantes, estando presentes no tecido conjuntivo propriamente dito e tecido mucoso, bem como os tecidos ósseo e fibrocartilagens.
As fibras de colágeno tipo II estão presentes nas cartilagens hialina e cartilagem elástica.
O colágeno tipo III (figura 6) forma um tipo especial de fibras - as fibras reticulares - que formam um arcabouço delicado em órgãos de consistência mole, como medula óssea, baço, fígado e rins. Essas fibras têm afinidade de ligação por corantes à base de prata, sendo por isso chamadas de argirófilas.
O colágeno tipo IV é importante componente das lâminas basais. O colágeno tipo VII está associado às lâminas basais, sendo conhecido como fibras de ancoragem, por unirem os tecidos epiteliais aos tecidos conjuntivos subjacentes.
Figura 6 - A) Fígado (400x). B) Rins (400x). Nesta preparação, as fibras reticulares (colágeno tipo III) estão evidenciadas na cor prata, portanto, fibras argirófilas. Estas fibras formam uma delicada rede de sustentação nos órgãos onde são encontradas. Del Rio Hortega.
2. Sistema elástico
As fibras do sistema elástico, ou fibras elásticas, são formadas a partir da proteína elastina. Pouco coradas nos métodos convencionais (HE, Tricômios...), são evidenciadas em corantes específicos para elastina, como Orceína e Verhoeff (Figura 7). Como o próprio nome sugere, as fibras elásticas fornecem flexibilidade e capacidade de distensão ao tecido conjuntivo e às cartilagens elásticas. São encontradas na derme da pele e em artérias elásticas, como a aorta.
Figura 7 - Artéria aorta (400x). Fibras elásticas evidenciadas por Orceína (A) e Verhoeff (B).
(Lâmina A foi gentilmente cedida por MSc. Silvania Tavares Paz, Depto. de Patologia - UFPE).
Show de bola! O Tecido Conjuntivo é riquíssimo em detalhes. Coisa linda!
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