Especializações da superfície livre das células epiteliais
As células epiteliais apresentam o que chamamos de POLARIDADE (Figura 1): um pólo apical, um pólo basal e pólos laterais. Alguns autores referenciam os pólos basal e laterais como único pólo: basolateral. Para todos os efeitos, consideramos como pólo basal das células epiteliais aquele que está voltado para a lâmina basal, estrutura protéica, não formada por células, que conecta o tecido epitelial ao tecido conjuntivo, garantindo adesão firme entre estes dois tecidos. A lâmina basal é formada principalmente por colágeno tipo IV e laminina e, em linhas gerais, não está visível na microscopia óptica, exceto utilizando-se corantes especiais. Essa estrutura é fundamental também para controle das trocas de moléculas entre os tecidos epitelial e conjuntivo, bem como controlar a migração de células entre os dois tecidos. O pólo apical é contrário ao pólo basal.
Em linhas gerais, a distribuição das organelas é diferente em cada um dos pólos das células. Isso faz com que diferentes partes das células apresentem funções especializadas diferentes. Além disso, a membrana plasmática do pólo apical pode apresentar composição molecular totalmente diferente da membrana do lado basal.
Figura 1 - As células epiteliais apresentam um pólo apical e um pólo basal, este último voltado para a lâmina basal. Todos os tecidos epiteliais estão ancorados ao tecido conjuntivo subjacente pela lâmina basal, uma estrutura acelular.
A superfície apical livre das células epiteliais pode apresentar modificações estruturais, cada uma especializada em uma função diferente. Vejamos os três tipos de especializações de membrana:
MICROVILOSIDADES
Estas projeções, em forma de dedo, são encontradas em células que realizam intensa absorção, como aquelas que revestem internamente o intestino (Figura 2) ou nos túbulos dos néfrons. A presença destas projeções aumenta intensamente a área da superfície apical da membrana, facilitando a absorção de nutrientes e água. Ao conjunto de microvilosidades da superfície do tecido dá-se o nome de borda estriada ou borda em escova, facilmente visualizada no microscópio de luz.
Figura 2 - Lâmina de intestino delgado. Note a diferença nítida entre tecido epitelial (A) e tecido conjuntivo (B). A lâmina basal não é visível nesta coloração. As células epiteliais (A), também chamadas de enterócitos, apresentam microvilosidades na sua superfície apical (seta), voltadas para a luz do intestino, onde circula o bolo alimentar. Entre as células epiteliais, podemos ver células menos coradas pelo método HE, as células caliciformes (*), que secretam muco na luz intestinal, facilitando o trânsito do bolo alimentar. (HE, 1000x). Lâmina gentilmente cedida por MSc. Silvania Tavares Paz (Depto. Patologia - UFPE).
CÍLIOS
Uma outra especialização de superfície livre, os cílios, são prolongamentos membranosos, dotados de mobilidade. Exibem movimento rápido de vai-e-vém, criando uma corrente de fluido ao longo da superfície do epitélio. Nos seres humanos, os cílios são encontrados no trato respiratório, onde auxiliam a reter e eliminar partículas estranhas no ar inalado, bem como no epitélio que reveste internamente as tubas uterinas, onde o seu movimento auxilia no transporte do óvulo ou zigoto até o útero. A nível de curiosidade, calcula-se que cada célula epitelial da traqueia humana (Figura 3) possua aproximadamente 250 cílios.
Figura 3 - Lâmina de traqueia. Notar a diferença entre epitélio (A) e tecido conjuntivo subjacente (B). A superfície apical das células epiteliais apresentam cílios, facilmente visíveis (seta grossa), voltados para a luz do órgão. Entre as células epiteliais, encontramos a presença de células caliciformes (seta fina), secretoras de muco, que auxiliam os cílios a reter e expulsar partículas estranhas provenientes do ar (Tricômio de Masson, aumento máximo).
Lâmina gentilmente cedida por MSc. Silvania Tavares Paz (Depto. Patologia - UFPE).
Lâmina gentilmente cedida por MSc. Silvania Tavares Paz (Depto. Patologia - UFPE).
ESTEROCÍLIOS
Outra especialização de membrana possível são os estereocílios (Figura 4), prolongamentos longos da superfície apical das células epiteliais nos epidídimos e ductos deferentes, incapazes de realizar movimentos, diferente dos cílios (estereo-). Os estereocílios apresentam função pouco elucidada, acreditando-se que aumentam a área de superfície das células, semelhante às microvilosidades, participando da maturação dos espermatozoides e absorvendo os espermatozoides defeituosos.
Figura 4 - Lâmina de epidídimo. Nas células epiteliais dos túbulos pode-se observar a presença dos grandes estereocílios (seta grossa), que podem ter papel crucial na maturação dos espermatozoides (seta fina). Nesta preparação histoquímica, a região celular rica em Complexo de Golgi, localizada próxima do núcleo da célula, está corada em preto. (Aoyama, aumento de 1000x).
Muito bom. Adorei revisar todos esses conceitos. A Histologia e riquíssima em detalhes. Linda demais!
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa.
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