Histologia do Tecido Cartilaginoso

O tecido cartilaginoso - ou simplesmente cartilagem - é um tipo especializado de tecido conjuntivo, cujas células - os condroblastos - secretam uma matriz extracelular relativamente resistente. A cartilagem forma o esqueleto inicial do embrião e serve como molde para formação de tecido ósseo subsequente. Este tecido também constitui o arcabouço de parte do nariz, da orelha e do tubo respiratório (laringe, traqueia e brônquios). 
Há três tipos de cartilagem:
  • Cartilagem hialina;
  • Cartilagem elástica;
  • Cartilagem fibrosa (fibrocartilagem).
As cartilagens são avascularizadas (diferente dos outros tipos de tecido conjuntivo), recebendo a sua nutrição a partir de tecidos subjacentes. Na maioria das cartilagens (Figura 1), o tecido que fornece nutrientes às cartilagens é o PERICÔNDRIO (peri = ao lado; tecido conjuntivo que recobre a cartilagem). Além disso, o pericôndrio possui um estoque de células condrogênicas, que se diferenciam na célula secretora da matriz extracelular, o condroblasto, como dito anteriormente. As cartilagens articulares (que recobrem a superfície dos ossos em articulações sinoviais) e as cartilagens fibrosas não são revestidas por pericôndrio. À medida que os condroblastos secretam a matriz, ficam aprisionados na própria matriz, em espaços que são chamados de lacunas, se tornando células quiescentes, isto é, que não mais produzem matriz, a não ser que sejam estimuladas, os condrócitos. Ocupam as lacunas grupos de 2 a 8 condrócitos, originados de um mesmo condroblasto, sendo, pois o conjunto de células no interior da lacuna chamado de grupos isógenos.
Os condroblastos são células achatadas, dispostas na periferia da cartilagem, na região de comunicação com o pericôndrio. São células que realizam intensa atividade secretória, tendo, pois grande quantidade de retículo endoplasmático rugoso e aparelho de Golgi. Já os condrócitos adquirem forma ovoide ou esférica, com aparelho secretor menor que os condroblastos.
A matriz extracelular (MEC) do tecido cartilaginoso é formada especialmente por fibras de colágeno e elásticas, condronectina, glicosaminoglicanos e proteoglicanos, além de abundante líquido intersticial.

Figura 1 - Cartilagem hialina (HE, 400x). Note a diferença entre o tecido cartilaginoso (C) e o pericôndrio (P), tecido fibroso que recobre a cartilagem e lhe confere nutrição. O pericôndrio reveste a maioria das cartilagens, sendo fonte de células secretoras da matriz cartilaginosa, os condroblastos (seta). À medida que secretam a matriz, os condroblastos ficam aprisionados na própria matriz (MEC), nas chamadas lacunas, tornando-se células quiescentes, os condrócitos (o asterisco aponta um condrócito; as demais células do centro da cartilagem são condrócitos). No interior das lacunas, grupos de condrócitos derivados de um mesmo condroblasto da periferia, são chamados de grupos isógenos (o círculo aponta um grupo isógeno).
Lâmina gentilmente cedida por MSc. Silvania Tavares Paz (Depto. Patologia - UFPE).

CARTILAGEM HIALINA
É o tipo de cartilagem mais abundante no corpo humano. Encontra-se formando o arcabouço cartilaginoso do nariz, dá sustentação à traqueia (Fig. 2) e árvore brônquica, forma as peças da laringe (exceto a cartilagem epiglote, que é elástica), reveste a superfície dos ossos que se articulam em articulações sinoviais (cartilagens articulares) e está associada aos ossos longos nas crianças e adultos, formando as cartilagens de crescimento, responsáveis pelo aumento ósseo em comprimento. A matriz extracelular é rica em colágeno do tipo II. São sempre envolvidas por pericôndrio, de onde recebem sua nutrição, exceto as cartilagens articulares, que se nutrem do líquido sinovial presente nas articulações sinoviais.

Figura 2 - Traqueia (HE, 400x). P - pericôndrio; C - cartilagem hialina.
Lâmina gentilmente cedida por MSc. Silvania Tavares Paz (Depto. Patologia - UFPE).

CARTILAGEM ELÁSTICA
As cartilagens elásticas - de distribuição mais restrita no corpo - são encontradas na epiglote e formando o pavilhão auricular. A matriz extracelular destas cartilagens possui, além de fibras de colágeno tipo II, grande quantidade de fibras elásticas (elastina), que ficam bastante evidenciadas em corantes seletivos para este tipo de fibras, como Verhoeff (Figura 3) e orceína. A presença de fibras elásticas permite a este tecido maior flexibilidade e capacidade de distensão em relação às cartilagens hialinas.

Figura 3 - Epiglote (Verhoeff, 400x). P - pericôndrio. C - Cartilagem elástica. As fibras elásticas ficam bem coradas em preto nesta preparação. A seta aponta uma lacuna de condrócito. O asterisco indica um pequeno vaso sanguíneo.

CARTILAGEM FIBROSA
Também chamada de fibrocartilagem, está presente nos aneis fibrosos dos discos intervertebrais (Fig. 4), bem como na sínfise púbica. Este tipo de cartilagem está bastante associado a tecido conjuntivo propriamente dito, sendo de certa forma difícil de precisar os limites entre os dois tecidos. A matriz extracelular é rica em colágeno tipo I, cujas fibras formam grossos feixes em direção ao sentido da força ao qual os condrócitos são expostos. É comum neste tipo de cartilagem encontrar os condrócitos agrupados em fileiras. Diferente dos outros tipos de cartilagens, a fibrocartilagem não é envolta por pericôndrio, recebendo sua nutrição dos tecidos adjacentes.
  
 Figura 4 - Anel fibroso de disco intervertebral (Tricômio de Gomory, 400x). Note que nas fibrocartilagens, os condrócitos encontram-se dispostos em fileiras, entremeados por grossos feixes de colágeno tipo I, por eles próprios secretados. A disposição das células e fibras é feita em direção às forças de tração às quais este tecido está exposto. As fibras colágenas ficam evidenciadas em azul nesta preparação.

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